terça-feira, 24 de março de 2015

Lições

Hoje não queria por o casaco.

Depois não queria por o gorro.

E gritava. E tirava os braços das mangas com uma destreza maior que a minha, que já tinha uma mala e uma mochila a tiracolo para sairmos.

Falei, falei, falei e ralhei porque queria sair de casa e estávamos nisto há quase 20 minutos… a paciência a fugir mais rápido do que eu conseguia controlar, confesso...

Atirou o comboio ao chão. Pedi que apanhasse o comboio se o queria levar consigo porque íamos sair. Não apanhou e saímos. E chorou e voltei a abrir a porta e pedi que fosse buscar. E não foi e voltamos a sair. E voltou a chorar. E fiz isto mais uma vez. E em pé, com o comboio aos pés, de cabeça baixa sem olhar para mim, não o apanhou. Apanhei eu, passei-lho para as mãos e saímos.

Não sei se é de ter dois anos e tal, se é de ser gémeos ou se é feitio… para mim esta cena foi uma repetição de uma que vi há mais de trinta anos entre o meu irmão e o meu pai. Havia algo atirado ao chão e ele não apanhava. O meu pai ralhou e bateu-lhe, por um tempo que a mim me pareceu infinito e ele não apanhou. Não sei se o meu irmão e o meu pai aprenderam alguma lição naquele dia mas eu aprendi...


5 comentários:

  1. Mais uma vez, sei que tenho uma pequena muito pacata, no que diz respeito a birras. Conto pelas dedos das mãos essas do tipo "choradeira+teimosia+não saio daqui".
    Como todas as crianças testa os nossos limites... muitas vezes.
    Eu já lhe dei umas palmadas, como foram poucas, acho que foram eficazes. Pode parecer frio dizer assim mas é a verdade. E acrescento o óbvio, a força com que dei doeram mais a mim do que a ela. Felizmente, também as conto pelos dedos de uma mão. E já não me recordo da última vez que o fiz.

    MAS

    Nisto da teimosia e das birras e do testar os limites, temos uma solução que adotamos muitas vezes cá em casa: os castigos. Não sei onde se enquadra nas regras das teorias dos "especialistas", gosto de seguir aquilo que eu e o pai achamos. Numa situação desse tipo, provavelmente ficaria de castigo de algo que gostasse muito. Ou de ver o Panda de manhã ou de ver os filmes que gosta no ipad durante uns dias... Da mesma maneira, se fizer o que lhe pedimos é recompensada.

    Soluções infalíveis não existem mas acho importante que depois de, com calma, lhes explicarmos que têm de fazer isto, uma, duas ou três vezes, percebam e respeitem os pais. E que as birras têm consequências que eles não vão gostar.

    E com isto quero apenas partilhar/falar contigo, sobre o tema e NUNCA dar soluções ;)

    Beijos e boa sorte!!!!

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    1. Martinha, obrigada pela tua partilha! A minha experiência com a pequena é idêntica à tua. 'Sacudi-lhe o pó' ao de leve tão poucas vezes que nem me lembro… também nunca tivemos de entrar em grandes negociações e castigos porque sempre foi uma menina muito fácil de levar… mas o irmão é tão diferente. E nesta idade, entre os dois e os três anos em que claramente não consegue gerir a frustração gerada quando algo não corre como ele quer, entrar em confronto seria dar-lhe precisamente o oposto daquilo que ele precisa (aos meus olhos): empatia. Na altura da 'crise' não há muito a fazer. Tento acalmá-lo, falo com ele… tento explicar-lhe as coisas quando ele está calmo mas honestamente quando falo com ele ele já está noutra onda e já nem se lembra o que fez nem porque fez… mas isto melhora… :)

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    2. Acredito que os baby boys sejam de temperamentos diferentes ;)

      Claro que melhora!
      Tal como dizes, é uma fase característica da idade.
      Beijos

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  2. O Filipe fez-me muitas dessas por volta dessa mesma idade.
    Apanhou algumas palmadas, que me doeram na alma.

    Mas uma coisa é certa, quando o meu filho atirava alguma coisa ao chão e queria-a mas não a apanhava. saímos de casa e o brinquedo ficava em casa.

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    1. Ai os meninos… :) Eu entendo a tua posição em não levar o brinquedo. Ninguém os conhece como nós.

      Por aqui, com o meu pequeno não acho que ele fique a pensar que 'levou a dele avante'. Pelo contrário, no momento em que apanhei o comboio e o passei para a mão dele só vi um grande conforto e um desanuviar da situação (a birra tinha começado antes com o casaco e o que isso implica - sair para a escola). Se fosse embora sem o brinquedo, a minha birra tinha ganho, mas a tristeza e frustração de ambos teria continuado… Beijinhos para ti e os dois minis xx

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