sexta-feira, 8 de abril de 2016

Os pequenos também têm problemas

A minha pequena tem uma faceta muito dramática. Já o tinha dito aqui. Normalmente essa veia aparece o fim do dia, no regresso a casa, quando ela está mais cansada. Por norma sou eu que estou com ela. Quando o pai apanha esses dramas fica desesperado, super deprimido sem saber o que fazer. Ela chora, aquilo vem-lhe da alma e ele não consegue separar o que é o drama causado pelo cansaço. Queixa-se dos amiguinhos, exagera algumas situações mas completamente convicta que tem toda a razão e o mundo é injusto com ela.

Ontem foi mais um dia desses. A maior parte do caminho eu tive de conter o riso* porque ela quando está assim diz coisas e usa expressões tão engraçadas que para mim são pérolas. Ontem o episódio foi avançando, que a amiga diz que já não vai ser mais amiga dela, que a obriga a brincar e que ela já cometeu um grande erro ao perdoa-la tantas vezes (esta foi uma das que me fez rir). Que se ela é amiga verdadeira não pode dizer essas coisas porque 'ela fica com o coração partido'. Esta não me fez rir, trouxe-me as lágrimas aos olhos… depois continuou, lembrou-se do avô, de como tinha saudades dele, das coisas que fazia com ele, da culpa que sente por às vezes não gostar dele e querer antes ir com a avó, de não perceber que ele ia morrer… bem, foi desolador. Confortei o melhor que soube, dei espaço para chorar, colinho (estacionamos e ficámos no carro a conversar), contei-lhe do que me lembro do meu avô que morreu quando eu tinha a idade dela, de como ficam as boas memórias e que de cada vez que pensamos neles eles estão presentes na nossa vida.

Fomos para casa e fui tentando tirá-la daquele estado. Só uma história sobre o irmão a conseguiu animar. Logo de seguida ele chegou e as coisas voltaram ao normal. Não é fácil ver os nossos filhos a sofrer mas às vezes faz parte. Ainda não fez um ano desde a morte do avô e ela raramente fala sobre isso. E eu sei que está lá. Tento sempre que ela perceba que é uma coisa triste mas natural e que devemos falar sobre isso sempre que precisemos.


* Nunca desvalorizo os desabafos dela nem a deixo perceber quando as coisas me fazem rir. Não estou a rir do que a faz ficar triste, fico impressionada com a forma como exterioriza algumas coisas de forma tão emocional e coerente. Se todos os adultos fossem assim as coisas eram mais simples. 





10 comentários:

  1. Se todos os adultos soubessem ser crianças no que respeita a sentimentos, o mundo seria sem dúvida muito melhor!
    A minha também faz esses dramas e ele fica igualmente aflito, é tão curioso eles não saberem lidar com estas coisas.

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    1. Os pais terão outras aptidões mas lidar com o choro não é uma delas ;)

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  2. Acho que os adultos deviam ouvir o que as crianças tenham para dizer.

    é normal que achemos graça aos dramas deles. Afinal, eles não sabem o que o futuros lhes reserva, mas nós podemos prever... já passámos lá. Ela vê os dramas à escala dela. Acho tudo isto normal.

    E a tua atitude como mãe também é fantástica. Acho eu.

    Bom fim-de-semana

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    1. Verdade Alice, é por isso que digo, dá piada algumas coisas mas não desvalorizo estes 'dramas' perante ela. Ainda ontem conversava com a professora dela sobre isto e mais. Que sou uma mãe igual às outras que às vezes perco a paciência e ralho mas que estou lá para ela mesmo nesses dias de menos paciência. Ao chegar à escola ontem vi uma mãe a tratar tão mal o filho que me deixou o coração tão apertado. Chamava-o mal educado, gritava e o menino ia meio aborrecido (como nós vamos tantas vezes) mas não ia a fazer nada de mais. E ela continuava a agressão verbal. Via-se que estava a descarregar a frustração ou cansaço na criança e isto vê-se tantas vezes. Os miúdos não têm culpa. Mas sentem isto na pele tantas vezes que acredito que depois o comportamento deles seja assim também…

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    1. Pensei muitas vezes em ti durante este drama ontem ;) #socorrotemospreteens

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  4. Pois é, ser criança não é fácil mas ajuda muito quando sabem expressar o que sentem. E para nós, mães, que privilégio sermos aquelas em quem elas depositam confiança.

    Eu também adoro contar-lhe a minha experiência. Ela fica sempre mais tranquila ao saber que eu ou o pai já passamos por situações semelhantes. E o poder de (e o tempo para) um abracinho por vezes é mais forte que mil palavras.

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  5. Quem me dera que o meu mais velho fosse capaz de exteriorizar as coisas assim dessa forma. Tenho vindo a aperceber-me que ele guarda muito e que esconde certas frustrações que tem... o que torna difícil ajudá-lo a relativizar ou a valorizar certas coisas...

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    1. Dificulta sim… mas um abraço e a certeza de que o colo da mãe está sempre ali para ele ajudam muito mesmo que não conte o que tem... Bjs xx

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